New World: e como eu deveria me sentir recompensado ?
Bom, tenho meu Medium faz alguns meses porém só escrevi em inglês, e posts relacionados a minha área de Computação. Mas fiquei relativamente supreso quando percebi que havia sim uma comunidade no site que escrevia em português, e escrevia sobre os mais variados tópicos. Me senti tentado a penetrar neste nicho. Eu já estava interessado em escrever sobre assuntos que eram pertinentes no meu tempo livre, afinal não acredito que alguém tão interessante é tão unidimensional assim. Ser ativo no Medium não deixa de ser, para mim, uma iniciativa de me manter produtivo fora do escopo da faculdade e do trabalho, e faço coisas além de programar e estudar nesse área da minha vida.
Sim, sou do time dos que conscientemente querem aprender a controlar a ansiedade, e que tentam seguir uma vida equilibrada. Assim sou mais feliz e mais produtivo. Ninguém no seu LinkedIn é uma máquina que não dorme.
Então me sinto obrigado a falar do elefante na sala para mim. No caso, o elefante na área de trabalho do meu computador de mesa: o MMORPG da Amazon, New World. Antes de falar de New World, creio que sou obrigado a falar do primeiro jogo que joguei do estilo, Runescape.
O “Runezinho” era bom demais, de verdade. Joguei na época que o jogo entrou na Steam, uns meses atrás quando a pandemia de Covid 19 tinha mais cara de pandemia. Eu sempre tive 1 amigo que era o viciado em Runescape, e que dizia que era o melhor jogo do mundo. Eu que não tinha apego emocional ao jogo, tinha um sentimento claramente misto: a inveja de não ter um jogo que pudesse chamar de “o meu jogo da vida”, e a estranheza dos aspectos claramente datados que são, nessa altura, intrínsecos ao Runescape. Voltarei mais adiante nisso do Runescape ser datado, pois isso se torna uma faca de dois gumes. Esse sentimento resultou na minha estranheza em relação ao o que eu gostava de fazer no meu tempo livre.
Ora, há de ser lógico em dada situação. Você quer sentir prazer em seu tempo livre. No caso de jogos eletrônicos, há a relação básica em sentir algum sentimento de recompensa agregada.
Assim como se aprecia a arte em um filme, se aprecia a arte em um jogo.
Assim como a competitividade dá força para jogar uma partida de futebol, a mesma competitividade te dá vontade de melhorar em um jogo eletrônico.
Assim como é prazeroso ver um caderno de desenhos e notar que seus desenhos melhoram, é prazeroso ver seu nível aumentar em um jogo. E assim como quando você desenha mais e se recompensa com novos materiais de desenho, no jogo você ganha novos itens. E em especial, em MMOs essa é a grande questão.
Cheguei no Runescape e aprendi a fazer o famoso “grind”. Me falaram:
>”Vai ali quebrar aquela árvore. Depois aquela. Depois aquela outra. Aí tu vai pro nível 100.”
>”Vai matar aquele crustáceo ali. Faz esse caminho ai até pegar nível máximo na arma.”
E para cada skilltree no jogo, meus amigos me jogaram uma instrução dessas. De maneira mecânica, focar em melhorar exatamente aquilo. Sabe quando você vai na academia e repete o mesmo movimento, forçando um grupo de músculos? Pois é, imagina isso num jogo. A diferença cavalar nessa situação é que, após a musculação, seu corpo reage de forma a liberar dopamina e você vai dormir com aquela “dor boa” de quem se esforçou. Mas o Runescape é um jogo point and click. Após horas e horas conversando com meus amigos enquanto jogava (na pandemia todos nós acabamos ficando mais tempo em casa, não é mesmo), eu parei e me perguntei:
“Pra que mesmo que eu to aumentando meu nível?”
“Bah, é pra gente fazer a missãozinha lá mais legal.”
“Como que ela é?”
“A gente mata o crustáceo maior e ganha ainda mais nível e moedinha.”
“Ah.”
Nesse momento eu larguei o jogo. Eu senti que só estava mudando onde que eu iria clicar. Senti uma falta de gameplay que muitas pessoas sentem em MMORPGs, o ponto que fica mecânico e você se esquece dos porquês. Eu sei que é no mínimo questionável cobrar isso de um jogo mais velho do que eu, mas eu genuinamente quis gostar da simplicidade. Só depois de 70 horas, a experiência não se sustentou.
Não me arrependo de ter gostado tanto de Runescape uma época pois o jogo tem sua magia e seu legado, mas não sustentou o relacionamento de longo prazo comigo. Chego na conclusão que em 2022, Runescape é um produto de nostalgia. Sem tirar mérito do jogo, lógico. Mas pra eu manter o jogo na minha vida, faltou carinho prévio pela experiência. E também, honestamente, vou falar a verdade e dizer que meu “desligamento” do jogo coincidiu com eu não aguentar mais ficar na frente do meu computador por conta do homeoffice e EAD. Queria uma atividade de lazer fora do computador e fui fazer trilha.
Nada a ver com nada, mas é a verdade.
Aí que New World entra na minha vida.
Conversando com meus amigos, me falaram de um tal mítico “novo Runescape da Amazon”. Mencionaram que era um jogo pago e eu pensei que seria uma boa oportunidade de comprar em uma promoção. Resultado, comprei 2 dias depois que o jogo saiu, sem promoção nenhuma. Podemos dizer que eu estava animado, no mínimo. E as primeiras semanas foram lindas, era como ver World of Warcraft ou Runescape nascendo do zero. Os gráficos de jogadores simultâneos no SteamDB mostravam records em um jogo de “gênero morto”. Dei spawn em Primeira Luz e fui para a guerra! New World, diria que por 1 ou 2 meses, virou minha atividade de lazer quase que diária pela parte da noite, depois do meu trabalho. Fui Cônsul de uma guilda junto dos meus amigos (tecnicamente ainda sou o cônsul da “Turma da Pesada”). Fiz missões, explorei o mapa, e até pesquei. E que ódio todos nós temos das quests do pescador, de fato.
Chegou o nível 20. E depois o 30. 40, 50…
Hoje sou nível 60 (máximo) com 160 horas de jogo. E basicamente não sei se gosto mais do jogo. Eu não sei exatamente o que me perdeu no meio do caminho. Tipo, “ir de um canto para outro matar uns bichos e voltar” é a coisa mais genérica que você pode imaginar da indústria dos jogos. Se você para pra pensar, eu acabei de descrever tanto a obra de arte Dark Souls como o lixo que é a franquia Watch Dogs hoje em dia (ou qualquer produto que a Ubisoft insista em nos empurrar, sendo honesto). A diferença foi os números. Aquela barra no rodapé da tela falando que eu estava aumentando de nível, ela eventualmente parou de crescer pois estava no nível máximo. Mesmo no nível máximo do New World ainda existe uma pilha de conteúdo a ser explorado, porém me dei conta que a vida estava parecendo Runescape (e digo isso no sentido ruim do Runescape). Logo estava buscando guias de como upar uma árvore de habilidades específica, e não preocupado em passar de uma dungeon com meus amigos. Amigos esses, que foram desaparecendo aos poucos.
Procure por “New World failed” no YouTube. A palavra de quem não gostou do jogo por nada também merece ser levada em consideração.
Então, logo era como estar jogando um Runescape novo. A parte triste é não poder extrair o que há de bom no Runescape, aquilo que eu não tenho: “nostalgia”. Apreciar a simplicidade das coisas, e ao mesmo tempo a perfeição resultante em atender uma demanda quando se dá suporte ativo à um software por mais de 20 anos. Não tem como criar tamanha lealdade em um MMO de alguns meses. Nem a gigante Amazon é capaz de fazer aquilo que Runescape fez nesse sentido, lealdade. Não vou terminar falando mal ou bem de Runescape, afinal o fato é que eu não jogo mais esse jogo.
De um lado, um jogo que deu um passo maior do que a perna. De outro lado, um jogo que é basicamente o produto de seu tempo. Runescape não deixou de se atualizar, mas nunca de fato deixou de ser o que era pra ser. Sim, digo isso de maneira ambígua, faltou uma gameplay dinâmica para me prender em Runescape, e em New World, uma hora a fonte da “gameplay dinâmica e eterna” apenas ficou seca e eu não sei o que esperar dos próximos updates. Até porque, o jogo piorou update por update (escrevo isso antes do update de março de 2022 chegar nos servidores públicos).
Questão é, apreciar o lado bom de um e do outro, enquanto que infelizmente fico no meio das duas coisas diante de uma pilha de “…mas é que”.
O Futuro
A indústria dos jogos me deixa muito aflito. Muito. Não consigo mais assistir uma E3 direito sem antecipar a decepção, ou sem antecipar que um jogo vai custar mais de 200 reais e não vai aguentar rodar no ultra na minha máquina high end. Não consigo mais gostar de consoles. Os melhores títulos da indústria não deixam de ser mais do mesmo, até os bons. Na minha cabeça, chamo isso de “Síndrome de Assassin’s Creed”. Elden Ring é um ótimo exemplo. Parece maravilhoso, mas não consigo achar que vai ser algo que vai me encher os olhos e me deixar arrepiado.
Sentir um “eita” jogando algo pela primeira vez é um desejo pouco realista hoje em dia.
Talvez seja a idade batendo, ou eu só sou chato. Fato é, de vez em quanto um New World aparece na minha vida e eu dou bastante valor.
Mas tudo passa, eu acho.